Escolas Cívico-Militares: Uma Solução para os Desafios da Educação no Brasil?
14/08/2024 - Artigo de Dante Mantovani.
Nos últimos anos, o debate sobre as Escolas Cívico-Militares tem ganhado força no Brasil, e recentemente, em Paraguaçu Paulista, a proposta de implementação desse modelo na Escola Maria Ângela provocou uma discussão acalorada. Como alguém que acredita firmemente na importância da disciplina e dos valores cívicos para a formação dos jovens, sinto a necessidade de abordar esse tema e apresentar minha visão sobre o assunto.
A proposta de Escolas Cívico-Militares, na minha opinião, oferece uma alternativa sólida e necessária para os problemas que enfrentamos hoje na educação. A reação à notícia da adoção desse modelo foi, como esperado, mista. Muitos aplaudem a iniciativa, vendo nela uma solução para a falta de disciplina e o baixo rendimento escolar. No entanto, houve também uma forte oposição, principalmente de setores ligados a ideologias de esquerda, que veem essa abordagem como uma militarização da educação.
Recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu temporariamente o projeto até que o Supremo Tribunal Federal se manifeste sobre sua constitucionalidade. Esse movimento foi impulsionado pela APEOESP, o sindicato dos professores, que parece mais interessado em silenciar o debate do que em discutir abertamente os méritos e desafios das Escolas Cívico-Militares.
A oposição a esse modelo geralmente o acusa de ser antidemocrático, mas, ironicamente, utiliza meios legais para tentar barrá-lo. Essa contradição é evidente: aqueles que criticam o que chamam de falta de abertura ao debate são os primeiros a buscar formas de impedir que esse debate ocorra. Eu vejo essa atitude como uma projeção das próprias táticas, uma tentativa de impor um único ponto de vista e de calar vozes discordantes.
Valorizar e profissionalizar a educação é, sem dúvida, essencial. Mas isso não significa que devemos rejeitar novos modelos que possam ajudar a resolver os problemas atuais. As Escolas Cívico-Militares não propõem, de maneira alguma, que os professores deixem de exercer suas funções. Pelo contrário, elas mantêm o papel central dos educadores, mas com a adição de valores fundamentais como a disciplina, o patriotismo e o respeito.
É importante destacar que, dentre os princípios das Escolas Cívico-Militares, estão o respeito à pátria, aos símbolos nacionais, como a bandeira, e à hierarquia, incluindo o respeito aos pais, professores e mais velhos. Esses valores, que considero essenciais para a formação de cidadãos responsáveis e conscientes, têm sido negligenciados no sistema educacional atual.
O estado atual da formação dos professores me preocupa. Tenho notado uma influência crescente de ideologias de esquerda nos programas de formação, que parecem mais focados em criar ativistas políticos do que em formar educadores competentes. Esse desvio de foco, em minha opinião, contribui para a indisciplina generalizada e para a falta de respeito pelos professores, problemas que só agravam o ambiente escolar e facilitam a entrada de males como o tráfico de drogas nas escolas.
O socioconstrutivismo, metodologia amplamente adotada nas escolas brasileiras, é um dos principais responsáveis pelo fracasso educacional no país. Ao privilegiar a construção do conhecimento a partir das experiências do aluno, essa abordagem acaba negligenciando a transmissão sistemática de conteúdos fundamentais e a disciplina necessária para um aprendizado sólido.
Dessa maneira, o resultado é um sistema educacional onde o aluno, em muitos casos, não é desafiado a superar suas limitações, mas sim incentivado a aprender de forma autodirigida, sem a estrutura e o rigor que um ensino de qualidade exige. Essa falta de foco em conteúdos essenciais compromete a formação intelectual dos estudantes, que saem das escolas sem as habilidades básicas necessárias para enfrentar o mercado de trabalho e a vida em sociedade.
Outrossim, o socioconstrutivismo tende a subestimar a importância da autoridade do professor como mediador do conhecimento, enfraquecendo a figura do educador e dificultando a aplicação de métodos mais tradicionais, mas eficazes, de ensino.
O professor, que deveria ser o guia do processo educacional, é relegado a um papel secundário, enquanto o aluno, muitas vezes sem a maturidade necessária para autogerir seu aprendizado, fica à deriva em um mar de informações sem critérios claros para o que deve ser prioritário. Esse modelo, que tem como premissa a liberdade irrestrita e a espontaneidade do aluno, acaba falhando em garantir um ensino de qualidade, perpetuando o ciclo de fracasso educacional que coloca o Brasil entre os países com os piores indicadores de aprendizado no mundo.
As teorias marxistas de Paulo Freire, que se tornaram hegemônicas no sistema educacional brasileiro, são o carro-chefe desse problema, agravando ainda mais o cenário de fracasso educacional. A pedagogia freireana, ao priorizar a politização do ensino e a crítica social a tudo que é são e correto, em detrimento da transmissão de conhecimento estruturado, acaba contribuindo diretamente para o alto índice de analfabetismo funcional que impera no Brasil.
Dessa forma, esse enfoque desvia a atenção do processo de aprendizado para questões ideológicas, deixando de lado a formação intelectual sólida e a preparação adequada dos alunos para enfrentar os desafios do mundo moderno. Como resultado, gera-se uma geração de estudantes incapazes de interpretar textos e resolver problemas básicos, perpetuando um ciclo vicioso que condena o país a uma posição vergonhosa nos rankings internacionais de educação.
Insistir neste erro é muito pior do que experimentar o método das Escolas Cívico-Militares.
Quando falamos sobre a organização das escolas e as reformas necessárias, é comum vermos discussões que se perdem em abstrações, sem abordar as questões concretas que afligem a educação brasileira. A indisciplina e a falta de respeito são problemas reais e graves, e não podemos continuar ignorando-os.
Um dos aspectos mais preocupantes da atual crise educacional é a desvalorização dos professores. A percepção de que "qualquer um pode ser professor" só serve para minar a qualidade da educação. Acredito que a inclusão de militares aposentados, com sua experiência e disciplina, pode ser benéfica para o ambiente escolar, desde que esses profissionais estejam preparados para atuar no contexto educacional.
As Escolas Cívico-Militares surgem, assim, como uma resposta prática aos problemas de indisciplina e ao ambiente caótico que muitas vezes prevalece nas escolas. A "disciplina cívica", como eu gosto de chamar, envolve o respeito às autoridades e a participação ativa na sociedade, valores que vejo como escassos entre os jovens de hoje.
Os atuais modelos de gestão educacional no Brasil têm uma parcela significativa de responsabilidade pelo alarmante índice de analfabetismo funcional que coloca o país em uma posição vexatória nos rankings internacionais. A falta de uma política educacional eficiente, focada na qualidade do ensino e na real capacitação dos alunos, resulta em uma legião de estudantes que, embora saibam ler e escrever formalmente, são incapazes de compreender textos ou realizar operações básicas que exijam interpretação e raciocínio lógico. Essa deficiência, reflexo direto da má gestão, compromete o desenvolvimento intelectual e profissional das novas gerações.
A progressão continuada, uma das políticas mais criticadas do atual sistema, exemplifica bem essa falha. Ao permitir que alunos avancem de ano sem a devida comprovação de aprendizado, cria-se uma falsa sensação de progresso que, na realidade, apenas mascara a ineficiência do ensino. Esse modelo, amplamente adotado nas escolas públicas brasileiras, desestimula o esforço acadêmico e contribui para a formação de indivíduos incapazes de enfrentar os desafios do mercado de trabalho e da vida em sociedade.
A gestão educacional precisa urgentemente rever essas práticas, priorizando a qualidade sobre a quantidade e investir em métodos que realmente façam a diferença no aprendizado dos alunos.
Além disso, a falta de preparação adequada dos professores e a ausência de investimentos em sua formação contínua agravam ainda mais o problema do analfabetismo funcional. Professores desmotivados e mal preparados não conseguem proporcionar o ensino de excelência necessário para reverter essa situação.
A gestão educacional precisa assumir sua responsabilidade e investir de forma eficaz boas metodologias de Ensino, além de reformular os currículos para garantir que os alunos saiam das escolas não apenas alfabetizados, mas plenamente capazes de interpretar, questionar e aplicar o conhecimento em suas vidas. Somente assim o Brasil poderá superar a vergonha de estar entre os países com os piores índices de analfabetismo funcional do mundo.
Precisamos questionar as leis que limitam a capacidade dos professores de impor disciplina nas salas de aula. As restrições impostas pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) contribuem para um ambiente onde a indisciplina reina, e isso deve ser revisto.
O argumento de que o problema da educação no Brasil se resume à falta de recursos financeiros é falacioso. Na verdade, o problema está na má gestão dos recursos existentes e na aplicação ineficaz das metodologias de ensino.
Por tudo isso, defendo que as Escolas Cívico-Militares não só reduziriam a indisciplina, mas poderiam também ser a chave para solucionar problemas mais profundos, como a violência e o tráfico de drogas nas escolas. Esses princípios de disciplina, respeito e patriotismo são, na minha opinião, essenciais para a formação de cidadãos que contribuem de maneira positiva para a sociedade.
A adoção do modelo Cívico-Militar representa uma oportunidade de resgatar esses valores e proporcionar uma educação mais sólida e estruturada para os nossos jovens. É hora de deixarmos de lado as ideologias desbotadas que não produzem resultados virtuosos e focarmos no que realmente importa: a Educação e a formação do caráter das próximas gerações.
Dante Mantovani
Pai de 3 filhos
Doutor em Estudos da Linguagem
Pré-candidato a Vereador pelo Republicanos