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Cidades resilientes: pra quê?

05/07/2024 - Por Marcelo Tortolero, Engenheiro geólogo pela Universidade Federal de Pelotas


Cidades resilientes: pra quê?

            Uma cidade resiliente é uma cidade que está preparada para resistir, se adaptar e se recuperar de problemas grandes como enchentes e tempestades.  E eu aposto que neste momento você já deve estar se perguntando: pra quê, se Paraguaçu não sofre com isso? Calma aí, que eu já chego lá!

           

            Quando eu digo “desastres”, estou falando sobre eventos grandes que podem causar muitos problemas. Mas, para uma cidade ser capaz de lidar bem com esses eventos, é preciso primeiro evitar qualquer tipo de problema grande quando algo menor (incidente) acontece. E por problema, quero dizer qualquer coisa que atrapalhe a vida das pessoas.

            Você deve estar se perguntando, qual é a diferença entre um desastre e um incidente?

            Um desastre é um evento que pode parar o funcionamento de uma comunidade, causando mortes, e grandes danos materiais, econômicos e ambientais. Quer um exemplo, caro(a) leitor(a)? O que está acontecendo no Rio Grande do Sul.

            Já um incidente é um evento que afeta uma comunidade, mas de maneira menor, sem interromper completamente a vida das pessoas. Um exemplo? Te dou logo três, caro(a) leitor(a)! Chuvas intensas no Bairro Rancho Alegre, Paraguaçu Paulista (SP): (1) fevereiro de 2017, (2) outubro de 2020, e (3) abril de 2024. Em sete anos, a comunidade foi afetada (pelo menos) três vezes.

Quando chove muito, a água da chuva pode levar a terra embora, especialmente onde não tem plantas para segurar esse solo. E o resultado disso? BURACOS E TRANSTORNOS! Eu sei, caro(a) leitor(a), que você sabe a solução para este problema: o asfalto.

E eu concordo com você até certo ponto! O asfalto é parte da solução, mas não a solução completa. Para resolver o problema de verdade e tornar a cidade mais resistente, precisamos seguir vários passos. Dá uma olhadinha na figura para ver do que eu estou falando.

O asfalto é apenas o passo 4 do nosso passo-a-passo. Antes disso, é preciso identificar e avaliar os riscos, planejar e se preparar para lidar com eles, educar e conscientizar a comunidade sobre os riscos, para depois “passar o asfalto”. E você sabe como a gente reconhece e avalia esses riscos? Primeiramente precisamos identificar quais são os perigos naturais do lugar (enxurradas, neste caso). Em seguida, é necessário entender a vulnerabilidade da comunidade frente a este perigo. Aqui, a falta de asfalto é apenas um exemplo de vulnerabilidade, mas existem outros. É através dessa relação perigo x exposição ao perigo, que conseguimos estabelecer o risco, e então, as áreas de risco.

Me sinto no dever de dizer, caro(a) leitor(a), que é bem aqui que o racismo ambiental se escancara…

Racismo ambiental é quando comunidades pobres e de minorias raciais são mais afetadas por desastres naturais, poluição, lixo e condições de vida ruins porque são ignoradas ou tratadas injustamente pelas autoridades e empresas.

Para finalizar, caro(a) leitor(a), devo dizer que só o asfaltamento não resolve o problema por completo porque, ao focar apenas no asfalto, muitas vezes estamos apenas jogando o problema para outra área, provavelmente mais vulnerável ainda. As soluções precisam ser integradas e positivas para todos, para garantir que todos tenham a mesma proteção e qualidade de vida, sem deixar as comunidades mais vulneráveis ainda mais expostas aos riscos ambientais.

É assim que construímos uma cidade resiliente!

 

 

Por: Marcelo Tortolero

Engenheiro geólogo pela Universidade Federal de Pelotas, e doutorando em Ciência e Tecnologia para o Meio Ambiente e Saúde pela Universidade de Sannio de Benevento (Itália)



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