Cinema Regional: O Impulso para uma Economia Criativa
01/04/2024 - Alef Rodrigues destaca os altos custos envolvidos na produção audiovisual de qualidade
O cineasta Alef Rodrigues, CEO da ALUF Pictures, compartilha sua visão sobre o potencial econômico da produção cinematográfica na região. Em uma entrevista exclusiva, Alef explora os desafios e as oportunidades de estabelecer uma indústria cinematográfica de alto valor agregado em áreas fora dos centros tradicionais de produção.
Alef Rodrigues destaca os altos custos envolvidos na produção audiovisual de qualidade, mesmo em projetos pequenos.
Ele ilustra isso com seu primeiro curta, onde a contratação de diversos profissionais, como figurinistas, maquiadores e cabeleireiros, foi essencial para a composição da personagem. Esses investimentos não só beneficiam as produções, mas também impulsionam o desenvolvimento e especialização dos profissionais envolvidos, criando um ciclo econômico virtuoso.
Ao dirigir seu primeiro curta minutagem, Alef Rodrigues identificou o potencial para uma indústria cinematográfica aqui na região. Ele destaca a presença abundante de profissionais talentosos em áreas diversas, prontos para se adaptar ao setor cinematográfico.
Além disso, ele ressalta que apesar da disseminação do YouTube, ainda falta impulso para uma cultura regional de produção cinematográfica de alto valor agregado. No entanto, a existência de salas de cinema locais oferece uma base sólida para o crescimento desse setor.
Para Alef, as plataformas de streaming desempenharão um papel fundamental na promoção da cultura cinematográfica regional. Destacando a importância de ter um espaço para exibir e promover produções locais, impulsionando a economia criativa da região.
Ele descreve a Big Lago como um projeto destinado a cultivar as nascentes culturais locais, fornecendo um espaço para o crescimento e a promoção de produções cinematográficas regionais.
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Como você avalia a economia criativa regional?
Os custos de uma produção audiovisual de alto valor agregado são extremamente altos. No meu primeiro curta minutagem, por exemplo, que contou com apenas uma personagem já foi preciso contratar figurinista, maquiadora e cabelereiro no preparo da Julia Vitória, a intérprete de Rose. E foram cruciais para a composição da personagem.
Em um cenário com produção em escala, o dinheiro gira, esses artistas diretos e indiretos conseguem se desenvolver, especializar, se estruturar beneficiando não só nossas produções, mas os próprios clientes deles.
Nesta mesma época, duas coisas ficaram claras para mim.
Primeira: está tudo pronto para o surgimento de uma indústria cinematográfica na nossa região. Cinema exige a presença de profissionais de diversas áreas como Arquitetos, Estilistas, Maquiadoras, Cabeleireiros, Artesãos, Motoristas, etc.
No cinema hollywoodiano todo esse pessoal já é especializado, mas mesmo sem uma cultura de produção na nossa região, esses profissionais de excelência já existem e aos montes. O fato de não terem experiência com produções cinematográficas não chega nem de perto a ser um empecilho, se adaptam com rapidez e facilidade.
A segunda: apesar do Youtube revolucionar e democratizar o acesso à cultura audiovisual, ainda não é suficiente para impulsionar uma cultura regional de produção cinematográfica, uma produção audiovisual de alto valor agregado.
Até temos salas de cinema o suficiente para sustentar uma economia regional e com abertura para exibição de produtos audiovisuais locais.
Só precisamos produzir... Como? Esta foi a pergunta que busquei por respostas nos últimos dois anos após finalizar meus três primeiros curtas.
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O que seria uma produção de alto valor agregado?
Em uma sociedade onde o consumo de mídia é dominante, (todo mundo tem uma conta no facebook, instagram, tiktok ou Youtube), consumimos vídeos o tempo todo.
No almoço, no cafézinho do trabalho, na fila de espera... Mas a maioria dessas produções são realizadas pelos próprios usuários, gravando com celular, editando no Capcut e divulgando nas plataformas.
Em geral, realizam um bom trabalho entregando um conteúdo que engaja o público. Mas ficam a um passo enorme de distância quando falamos de um filme exibido no cinema. Mesmo os influenciadores que já contam com equipe.
O processo é praticamente o mesmo, temos um roteiro, a captação de imagem com câmeras e microfones, a edição na ilha de montagem, distribuição e exibição nas salas de cinemas.
A diferença é que ao invés de uma única pessoa enfurnada no quarto fazendo tudo sozinho você tem uma equipe enorme por trás, cada um com sua especialidade.
É indiscutível a diferença de valor desses dois produtos. Por isto chamo os filmes de Cinema de Audiovisual de Alto Valor Agregado, justamente pela quantidade de pessoas qualificadas e especializadas no fazer cinema envolvidas no projeto.
Uma sociedade que tem na sua cultura a produção cinematográfica é rica em todos os sentidos possíveis.
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Como surgiu a ideia da Big Lago?
O pilar de uma sociedade próspera são suas nascentes culturais. E ter um local para que essas nascentes tenham para onde ir é, no mínimo, um grande impulsionador.
Quando comecei a me interessar pela produção audiovisual senti muita falta de um mercado de entretenimento regional. É historicamente, o mercado que mais nos permite ser artistas.
Ao me formar em publicidade e propaganda pela Unimar, me restaram duas opções. Sair da região e batalhar para trabalhar nos grandes estúdios internacionais de animação ou ficar e buscar construir uma carreira regional.
Vislumbrar a ideia de cultivar uma mata ciliar para as nascentes culturais da região me empolgou demais. Gosto de grandes desafios.
Comecei a explorar a cultura da região um pouco mais afundo, o que estamos produzindo e consumindo de lazer. E me surpreendi ao ver uma cultura pujante e autêntica.
Temos bandas autorais de Power Metal, Rock alternativo, Samba, Sertanejo, Hip Hop... Temos livros autobiográficos, dramáticos, acadêmicos e de histórias em quadrinhos. Peças premiadas de teatro. Arquitetura renomada e o que mais me interessa. Uma cultura de produção cinematográfica cada vez mais forte
É sério, já temos uma produção cinematográfica na nossa região. Aqui em Paraguaçu, Assis, Marília e demais cidades conta com um catálogo interessante de curtas minutagens e até mesmo longas minutagens.
Preparar um campo aberto para que as águas dessas nascentes possam preencher o vale foi um movimento tão natural quanto esses movimentos culturais que existe na nossa região. Daí surge a Big Lago.
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E de onde vem o nome Big Lago, tem a ver com o balneário de Paraguaçu?
Totalmente. Quando cheguei à conclusão de que seria preciso desenvolver uma plataforma de streaming para o cinema regional prosperar, busquei um símbolo regional que pudesse representar todo o projeto.
O grande lago, além de ser um grande ícone de nossa cidade, minha cidade natal, está envolto de várias coincidências. Paraguaçu em tupi guarani significa Grande lago também.
A mistura do inglês com português foi só mais uma pitadinha para deixar o nome mais marcante.
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Você parece ter uma visão bem peculiar do que é cinema, como você define a sétima arte?
Cinema é a experiência de se insolar dos estímulos externos e receber apenas os estímulos visuais e sonoros pensados pela equipe realizadora. Uma sala escura vedada onde só existe a projeção de imagem e som do filme fará com que você seja transportado para aquele universo muito mais facilmente.
Não é algo exclusivo das salas de cinemas dos shoppings. Você pode simular a experiência cinematográfica na sua própria casa. Comprando uma TV Grande ou um projetor, bloqueando todas as entradas de luz como portas e janelas, certificando que nenhum som externo tome a sala e dando play em um vídeo das suas férias, você vivenciará o cinema.
Do contrário, se você assistir Openheimer, que ganhou o Oscar de melhor filme, pelo celular no banco de trás do carro a caminho do trabalho, a sua imersão será totalmente comprometida. Mesmo com uma produção de altíssimo valor agregado.
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Você acredita que iniciativas governamentais podem ajudar a impulsionar o desenvolvimento do cinema regional? Se sim, de que maneira?
Sim, claro. Toda ajuda é bem-vinda. Na realidade, a maioria dessas produções regionais só foram possíveis por conta das leis de incentivos.
Como disse mais cedo, uma produção audiovisual de alto valor agregado é extremamente caro, será preciso unir forças de todas as frentes possíveis se quisermos instalar uma indústria na nossa região.
Pessoalmente, não me sinto confortável de utilizar recursos públicos na realização dos meus filmes autorais, o que me atrapalha bastante. Mas não vejo problemas em quem utiliza, até incentivo. Abracem os recursos que estiverem a sua disposição e se expressem o máximo que puderem.
Mas estes recursos só resolve um problema da equação, a produção. A outra ponta fica desamparada, a formação de público, a saúde econômica e liberdade criativa. Apesar de muito útil, infelizmente essas leis têm suas preferências de conteúdo.
O que é normal, exatamente por isto que é preciso vários players fomentando o mercado.
Eu acredito muito na ponte direta entre os espectadores e os realizadores, por isso mais de 50% dos Royalts da Big Lago irá para os criadores.
Quanto mais assinantes cultivando, mais nascentes irão surgindo.
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Quais são seus planos para expandir sua empresa de animação e promover ainda mais a cultura cinematográfica na região?
A ALUF Pictures hoje atende mais o mercado internacional, apanhei muito, mas venho construindo uma cartela boa de clientes no último ano. A animação 3D me dá essa liberdade, assim posso trabalhar aqui do meu estúdio, no interior paulista completamente fora dos grandes centros. A mesma característica me permite contratar artista do mundo todo, inclusive daqui, caso não dê conta da demanda.
Para a Big Lago a estrela do norte é bem nítida. Catálogo, preciso alimentar a plataforma com mais conteúdo para que se torne o Grande Lago que tem potencial de ser. Hoje, estão apenas os meus três primeiros curtas minutagens, mas já estou negociando o licenciamento com os realizadores locais.
E agora que concluí esta etapa importante, consigo voltar a me dedicar aos meus filmes autorais.