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Culpa de comer: redes sociais podem afetar autoestima e alimentação

03/11/2023 - Terrorismo alimentar tem deixado as pessoas preocupadas o tempo todo com o que comem.


Culpa de comer: redes sociais podem afetar autoestima e alimentação

Já pensou se todos os dias e lugares por onde você circulasse só visse corpos magros, peles sem marcas ou rugas e cabelos alinhados? Pois esse é o mundo vendido nas redes sociais. A questão é que muitas imagens nem sempre são reais. E o que estudos mostram é que a exposição a esse ambiente tem prejudicado a autoimagem das pessoas, que passam a se cobrar por um corpo inatingível e embarcam em dietas sem nem mesmo precisar delas.

 

Internet x a imagem sobre nossos corpos

A idealização de corpos e estética veio antes da internet e das redes sociais, só que nunca antes estivemos expostos a tantos exemplos e conteúdos sobre dietas, corpo, exercícios e estética.

Isso tem a ver com como a própria rede social funciona: é completamente visual (alimentada por fotos e vídeos), com corpos alterados por edições e filtros, e que, com o algoritmo, coloca o usuário em uma bolha sobre um mesmo assunto ou tipo de pessoa -- incluindo publicidades.

Pesquisas têm confirmado que essa superexposição traz consequências:

 

  • Um estudo da Universidade do Minho, de Portugal, publicado em 2023, ouviu 310 universitárias sobre comparação. A pesquisa apontou que 98% delas comparavam seu corpo com o de outras pessoas e 52% das estudantes disseram se comparar com pessoas online.
  • Um estudo da universidade de medicina da UCL, de Londres, feita em 2017, analisou a exposição de 680 estudantes às redes sociais para entender a tendência à ortorexia -- um transtorno de autoimagem. A pesquisa identificou que as pessoas envolvidas nos conteúdos do Instagram sobre alimentação saudável têm uma alta prevalência de sintomas de ortorexia.

 

E não é só a academia que vem dizendo que as redes sociais estão mudando como a gente se enxerga e a autoestima, mas a própria plataforma.

Em 2021, o jornal norte-americano The Wall Street Journal vazou uma pesquisa feita pelo Facebook com adolescentes na plataforma. O estudo descobriu que 32% das meninas que disse se sentir mal com o corpo, afirmou que o Instagram as fazia se sentir pior. O relatório, segundo o jornal, ainda concluiu que as comparações no Instagram podiam mudar a forma como as jovens se viam.

As pessoas estão expostas o tempo todo a modelos de beleza inalcançáveis para a vida cotidiana. Além disso, um ambiente de terrorismo alimentar que tem deixado as pessoas preocupadas o tempo todo com o que comem, com quanto comem e isso vem refletindo em doenças como transtornos alimentares, depressão e ansiedade.

O terrorismo alimentar

Se existe uma pressão pelo corpo "ideal", existe demanda de conteúdo sobre como alcançá-lo. Nas redes, pessoas ganham a vida produzindo conteúdo sobre como emagrecer, exercícios e um lifestyle de saúde.

O que os nutricionistas explicam é que com tanta informação, as pessoas sabem o básico e para ganhar audiência é preciso uma chamada comercial e um tom de novidade. É aí que quem produz conteúdo online investe no que especialistas chamam de terrorismo alimentar.

Açúcar vicia como cocaína. Cortar o glúten é o segredo para emagrecer. Leite é inflamatório. Pão é vilão. Bolo de chocolate pode levar ao Alzheimer." Todas essas afirmações não têm qualquer base científica, mas estão em massa na internet em vídeos com títulos que buscam chamar a atenção.

Se você já viu esse tipo de conteúdo, se deparou com um exemplo de terrorismo alimentar. Segundo especialistas, esse tipo de conteúdo coloca alimentos em uma categoria de perigo e aterroriza quem come.

Se antes a fixação era contar calorias, o modismo online agora é incluir uma série de alimentos que fazem parte do cotidiano e da cultura alimentar brasileira como proibidos.

A nutricionista Marina Nogueira conta que esse tipo de conteúdo e abuso de imagens de corpos irreais a levou a criar o projeto Não Conto Calorias. Usando as redes sociais, blog e podcast ela faz alertas sobre terrorismos, restrições em dietas e chama, principalmente mulheres, para uma reflexão sobre a pressão estética online.

Online, o discurso da saúde colocou um verniz em cima de obsessões alimentares. Pessoas que deixam de comer determinados alimentos, embarcadas em modismos. E fazem isso pela obsessão de estar no corpo do outro, por essa superexposição a padrões.

Em uma busca rápida pelo Instagram, por exemplo, há 35 milhões de publicações com a hashtag dieta. Grande parte desse conteúdo traz vídeos de pessoas compartilhando sua "rotina saudável" na perda de peso, com dicas de como emagrecer e até indicação de produtos emagrecedores sem a sinalização de que são publicidades.

Marina explica que a divulgação de dietas de pessoas famosas sempre existiu, mas o que houve foi uma massificação seguida de um aumento no volume de pessoas famosas, com as influenciadoras.

"As pessoas que vendem esse tipo de conteúdo tiveram que se reinventar. Não é só a dieta, mas novos alimentos proibidos, uma chamada caça clique de alimento perigoso ou de risco para emagrecer e engajam com isso sem preocupação com quem lê. Além de muita publicidade não sinalizada", diz a nutricionista Marina Nogueira.

Miriam Bottan, jornalista e influenciadora, conta que viveu o auge dos corpos magros dos anos 2000 e os primórdios das redes sociais. Ela diz que sempre se viu como uma pessoa magra, até a adolescência quando sentiu a pressão por padrões. Foi quando entrou em um ciclo de dietas, restrições, muitos exercícios e que terminou em bulimia (comer seguido de vomitar ou usar laxante), além do abuso de álcool e drogas.

"Eu via na internet um discurso de saúde que, na verdade, era pró-doença, que impulsionava para transtornos alimentares. Eu tinha muita culpa de comer, não podia comer uma série de coisas e lembro como foi a sensação do meu primeiro hambúrguer sem me culpar depois de anos."

— Miriam Bottan, jornalista e influenciadora

A influenciadora conta que durante a doença chegou aos 38 kg e que, à época, não havia muitas influenciadoras ou comunidades online que falassem sobre o assunto. O auge ainda era um discurso de emagrecimento como "saúde".

Em meio ao tratamento, decidiu publicar sobre o que estava vivendo e foi quando percebeu que, na verdade, havia mais pessoas como ela online. Desde então, Miriam usa as redes para falar sobre a relação com o próprio corpo, desmentir conteúdos de terrorismo sobre a comida e falar sobre transtorno alimentar. Tem quase meio milhão de pessoas nas redes, onde tenta fazer da internet um ambiente menos hostil.

"Compartilho a minha relação com a comida e com meu corpo na tentativa de fazer as pessoas refletirem", diz.

É filtro ou é verdade?

O corpo feminino parece ter sempre estado em discussão quando falamos de padrão, com a eleição de ‘sex simbols’ e misses como um exemplo do que deveria ser seguido por quem vivia a ‘vida real’, não dedicada à própria imagem.

Se nos anos 60 Marilyn Monroe, com seu corpo curvilíneo de pernas grossas, era um símbolo de beleza. Nos anos 80 e 90 esse padrão se perdeu para um modelo mais magro, como de Cindy Crawford e depois Kate Moss – que representava o estilo heroin chic, que classificava como auge de beleza o corpo magro, com ossos expostos, como de usuários de heroína.

A trajetória dos padrões não é linear: os modelos de corpos e tendências vão mudando ao longo do tempo. Ou seja, fica impossível de acompanhar.

E o que já era impossível, ficou ainda mais complexo com as redes. Os modelos de beleza podem ser editados, esconderem plásticas, publicarem fotos de ângulos escolhidos para parecerem o que não são. O que existe online nem sempre é real ou é só parte da história.

Em 2017, por exemplo, a empresária e influenciadora Bianca Andrade (Boca Rosa) compartilhava sua rotina de dietas que a fez perder cerca de 12 kg, mas mais tarde revelou que, além da rotina, o resultado havia sido tonificado por uma lipoaspiração (cirurgia para retirada de gordura abdominal) que fez, mas que não compartilhou com os seguidores.

"A gente precisa olhar para o mundo real. Se você olhar no digital só vai ser gente magra e sarada. Mas se for à praia, qual corpo você vai ver? A gente está presa em um surto coletivo, ninguém está olhando para ninguém no mundo real, que é muito diferente do que está online."

— Marina Nogueira, nutricionista

Uma internet menos hostil

Uma possível solução para o surto coletivo é ver corpos mais parecidos com o que tem aqui fora no mundo online. É isso o que mulheres têm tentado fazer, falando com transparência sobre a pressão e contando suas histórias.

A publicitária e influenciadora Bertha Salles foi uma das vítimas da pressão estética. Ela conta que passou a vida entre dietas e crises de compulsão, sempre influenciada pelo que via online.

"Eu comecei a usar Instagram na época das musas fitness e aí postavam muito antes e depois. Essas coisas eram gatilhos enormes, principalmente para eu que tinha o viés do transtorno alimentar. Foi então que pensei que, se tivesse alguém como eu, com meu corpo, que eu pudesse acompanhar, eu teria sofrido muito menos trauma."

— Bertha Salles, influenciadora que reúne mulheres para malhares por saúde.

No isolamento da pandemia, Bertha ganhou peso e, com a reabertura, chegou a recorrer a tratamento com Saxenda, uma das canetas emagrecedoras, perdeu 17 kg, mas voltou a engordar e decidiu repensar sua relação com o corpo.

Ela conta que sempre gostou de se exercitar, mas se sentia pressionada pelo ambiente da academia e não sentia que podia compartilhar sua rotina por não ter um corpo que suprisse a expectativa. Foi quando decidiu romper e criar a comunidade 'Bucinho Suado'.

Ao invés de compartilhar sua rotina com fotos do corpo, fazia posts com o buço suado. O movimento cresceu, se tornou uma comunidade e reúne mulheres para treinos coletivos.

“A gente busca o exercício físico como uma coisa prazerosa, divertida. Criamos um ambiente em que as pessoas se sintam seguras de ir malhar porque não é um lugar que vai cultuar o corpo perfeito. São corpos reais”, conta.

Closes em paisagens paradisíacas, praias deslumbrantes e sendo uma mulher gorda. Essa é a jornada de Pollyane Marques, que compartilha sua experiência no Viaja Gorda. Ela conta que passou pela bulimia depois de muita pressão estética tentando ser uma pessoa magra e chegou aos 48 kg, até buscar ajuda e entender o próprio corpo e a alimentação.

Pollyane diz que descobriu com as viagens que seu corpo poderia fazer muitas coisas. Por ser uma pessoa gorda, via limitações com os casos constantes de constrangimento em companhias aéreas, e por não se ver representada em tudo que via ao pesquisar sobre os destinos que sonhava ir.

"Eu queria saber sobre viagem e não achava pessoas com o corpo parecido com o meu. Você vê no Instagram pessoas com corpos esbeltos em todos aqueles lugares lindos e achava que eu não cabia ali. Até que decidi fazer eu mesma e mostrar que muitas como eu podem e que nosso corpo é capaz além dos limites que tentam impor."

— Pollyane Marques, jornalista e influenciadora.

Ela conta que já percorreu diversos lugares do mundo e que os impeditivos, na verdade, eram gordofobia. "Somos vistos como pessoas preguiçosas, incapazes. Um dia, cobrindo política, duvidaram que eu poderia ir de um salão a outro por causa do meu peso, apesar da minha experiência com a cobertura. Hoje, eu ando o mundo", conta.

A influenciadora Ju Romano decidiu falar sobre moda e beleza, um dos nichos com maior pressão estética no mercado.

Sendo uma pessoa gorda, incentiva pelas redes mulheres a romperem como "look que valoriza" em busca de se aproximar do padrão, mas usar a moda como expressão.

"O look que valoriza é o que expressa a personalidade, que comunica, que traz partes de mim para o mundo - e não o que tenta mudar, afinar ou alongar meu corpo", escreve em suas redes.

Decote, plissado, listras, estampas e cores diversas. Pelas redes, compartilha seus looks que vão contra a cultura de discrição que é imposta a mulheres gordas.

Fonte: G1



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