A cada dez dias, uma mulher foi vítima de feminicídio na região em 2023
11/03/2023 - Maioria das mulheres foi assassinada dentro da própria casa
A cada dez dias, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio no centro-oeste de São Paulo neste ano. Foram ao menos sete assassinatos registrados em sete cidades diferentes desde 1º de janeiro.
Elisangela Andrade Cardoso, de 35 anos, Vanessa Fabiano dos Reis Costa, também de 35, Elizângela Irene da Silva, de 41, Graziele Dameto Santos de Jesus, de 36, Roseli de Cássia Borges Crepaldi, de 46, Débora Cristina Moraes Costa do Maral, de 41, e Luciana Maria da Silva, de 25, foram mortas por companheiros e ex-companheiros.
Com exceção de Roseli, todas elas foram assassinadas dentro da própria casa. Agredidas com barra de ferro, atacadas a pauladas e esfaqueadas. Algumas delas possuíam, inclusive, medidas protetivas determinadas contra os agressores.
A delegada Viviane Sponchiado, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Marília, explica o porquê das similaridades entre os casos.
“Isso acontece porque o crime de feminicídio está intimamente relacionado com a violência doméstica. É por isso que, nos feminicídios, é comum haver um ambiente de violência dentro dos domicílios”, diz.
Nesse sentido, a violência tende a ser uma crescente, segundo a delegada. Isto é, há uma escalada nas agressões: elas podem começar com ofensas e, mais tarde, evoluir para violência física. Por isso, "quanto mais cedo a vítima denuncia, maiores a chances de evitar uma violência mais grave", explica.
Especialistas apontam, no entanto, que há deficiência nas políticas públicas tanto de prevenção à violência doméstica quanto de proteção e acolhimento das mulheres vítimas.
Na gestão Bolsonaro, entre 2020 e 2023, os recursos destinados a políticas específicas de combate à violência contra a mulher foram reduzidos em mais de 90% em relação aos quatro anos anteriores, segundo levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Essa verba é direcionada principalmente às unidades da Casa da Mulher Brasileira e a Centros de Atendimento às Mulheres.
De acordo com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), o baixo investimento na área também faz com que a fiscalização das medidas protetivas não seja cumprida eficientemente, o que contribui para que casos de violência doméstica evoluam para feminicídios.
Viviane reforça que toda a população pode denunciar uma situação de violência doméstica à polícia. Isso pode ser feito por ligação, pelos telefone 190, da Polícia Militar, ou 180, da Central de Atendimento à Mulher, ou presencialmente, pela delegacia policial mais próxima.
Vítimas de feminicídio no centro-oeste de SP em 2023
Elisangela Andrade Cardoso, em 31 de janeiro
Elisangela Andrade Cardoso, de 35 anos, foi morta após uma discussão com o companheiro, em Bastos.
Segundo a Polícia Civil, o corpo da vítima foi encontrado em cima da cama e com vários ferimentos no rosto. A polícia iniciou as buscas e prendeu o suspeito, de 48 anos, que estava fugindo em um ônibus entre Herculândia (SP) e Pompéia (SP), com destino a Piracicaba (SP).
O agressor confessou o crime e disse que ambos beberam e usaram droga, até que começaram a discutir e a se agredir.
O caso foi o primeiro feminicídio registrado em 2023 no centro-oeste paulista.
Vanessa Fabiano dos Reis Costa, em 2 de fevereiro
Vanessa Fabiano dos Reis Costa tinha 35 anos e foi morta com 23 facadas em Promissão (SP) — Foto: Facebook/Reprodução
Vanessa Fabiano dos Reis Costa, 35 anos, foi morta pelo ex-marido, de 35, com 23 facadas dentro de casa, em Promissão.
Ela havia chamado polícia quando percebeu que o agressor estava tentando entrar na casa pelo telhado, após ter pulado o muro do imóvel. Quando a equipe chegou ao local, se deparou com a mulher ferida no chão.
O suspeito foi detido na garagem da casa, enquanto tentava sair com o carro da vítima, segundo a Polícia Civil. A Justiça determinou pela prisão preventiva dele.
Ainda de acordo com a polícia, a mulher possuía uma medida protetiva contra o homem.
Elizângela Irene da Silva, em 10 de fevereiro
Elizângela Irene da Silva, de 41 anos, foi encontrada morta pelos seus dois filhos mais novos, de 7 e 8 anos, com perfurações pelo corpo no quintal de casa, em Guaiçara.
O ex-companheiro de Elizângela, que é vizinho da vítima e pai do filho de 21 anos dela, disse que viu o atual companheiro dela, suspeito do feminicídio, deixando a casa onde houve o assassinato. Segundo a Polícia Civil, ele havia saído da cadeia no ano passado.
O homem foi preso 15 dias depois, durante uma tentativa de furto em Guararapes (SP). Segundo a Polícia Civil, o suspeito, de 36 anos, foi flagrado junto com outro criminoso tentando furtar chaveiros, torneiras e cerca de seis metros de fio de cobre de uma casa desocupada.
A Justiça determinou a prisão preventiva dele.
Graziele Dameto Santos de Jesus, em 27 de fevereiro
Graziele Dameto Santos de Jesus tinha 36 anos e foi assassinada com uma facada no pescoço em Bauru (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Graziele Dameto Santos de Jesus, de 36 anos, foi esfaqueada dentro do banheiro de casa após uma briga com o companheiro, Samuel de Jesus Santos, de 41 anos, em Bauru.
Segundo as investigações da Polícia Civil, a vítima já havia sofrido violência doméstica, registrado as agressões e conseguido obter uma medida protetiva contra o homem. No entanto, os dois retomaram o relacionamento.
Samuel de Jesus fugiu do local após o crime. A Justiça determinou a prisão preventiva dele, mas até o fechamento desta reportagem, ele permanecia foragido.
Roseli de Cássia Borges Crepaldi, em 28 de fevereiro
Roseli de Cássia Borges Crepaldi tinha 46 anos e foi morta após ser agredida com uma barra de ferro em Iacanga (SP) — Foto: Facebook/Reprodução
Roseli de Cássia Borges Crepaldi, de 46 anos, morreu após ser agredida com uma barra de ferro pelo ex-marido, Renato José de Campos, também de 46, em Iacanga.
De acordo com a Polícia Civil, a vítima havia ido até a casa do ex-marido com a filha do casal, de 8 anos. Em determinado momento, os dois começaram a discutir e o homem a agrediu com um cano de ferro.
A mulher chegou a ser socorrida com ferimentos graves na cabeça, mas não resistiu e morreu.
As agressões foram presenciadas pela criança. O filho mais velho de Roseli disse ao g1 que a irmã ficou em estado de choque por ter presenciado a cena.
O agressor foi preso horas depois. Ele havia fugido após o crime e foi localizado em um canavial de uma propriedade rural entre Iacanga e Reginópolis.
Débora Cristina Moraes Costa do Maral, em 4 de março
Débora Cristina Moraes Costa do Amaral tinha 41 anos e foi morta a pauladas em Guaimbê (SP) — Foto: Facebook/Reprodução
Débora Cristina Moraes Costa do Amaral, de 41 anos, foi assassinada a pauladas pelo companheiro, Amarildo Rocha Santana, de 28 anos, em Guaimbê.
Segundo o boletim de ocorrência, policiais militares foram acionados por vizinhos que ouviram a briga e, ao chegarem à residência, encontraram a vítima caída no quintal da casa com ferimentos na cabeça.
A morte de Débora foi confirmada no local. O pedaço de madeira usado pelo agressor foi encontrado ao lado do corpo da vítima.
Amarildo fugiu após as agressões e ficou foragido por dois dias até ser capturado na última segunda-feira (6), escondido na casa da mãe, em Getulina, município vizinho.
Segundo a Polícia Civil, a vítima já havia registrado queixas contra o agressor, mas havia voltado a morar com ele há algum tempo.
Amarildo passou por audiência de custódia e teve a prisão preventiva decretada. Ele foi encaminhado à Cadeia de Álvaro de Carvalho.
Luciana Maria da Silva, em 6 de março
Luciana Maria da Silva tinha 25 anos e morreu após ser esfaqueada dentro de casa, em Dois Córregos (SP) — Foto: Facebook/Arquivo Pessoal
Luciana Maria da Silva, de 25 anos, morreu após ser esfaqueada dentro de casa, em Dois Córregos. O companheiro Bernardo Agricio da Silva, de 31 anos, principal suspeito do crime, se suicidou na sequência.
Dentro de casa ainda havia duas crianças, uma de 7 anos, filho da mulher, e a outra de 3, filho do casal. Os dois meninos estavam dormindo quando a babá chegou e foram encaminhados ao Conselho Tutelar.
O caso foi registrado no dia 6 de março. De acordo com a Polícia Civil, a babá das crianças foi quem chamou a polícia após encontrar o homem morto ao chegar na casa para trabalhar. Bernardo estava do lado de fora do imóvel, enforcado com uma corda.
Em dezembro de 2022, Luciana registrou um boletim de ocorrência contra o marido por ameaça. Ela pediu uma medida protetiva contra Bernardo, no entanto, no início do mês de fevereiro, o casal voltou a morar na mesma casa.
À polícia, a babá contou que, após encontrar Bernardo morto, entrou na casa e chamou pela patroa, Luciana. Como não teve resposta, ela seguiu até o quarto, onde encontrou o corpo da vítima na cama, com o filho de 3 anos dormindo ao lado.
A perícia técnica constatou que Luciana morreu, possivelmente, em decorrência de ao menos cinco golpes de faca na cabeça. O objeto foi apreendido na casa.
A Polícia Civil pediu exame necroscópico nos corpos para confirmar as causas das mortes. Luciana foi sepultada na terça-feira (7), no Cemitério Municipal.
De acordo com BO, Luciana e Bernardo voltaram a morar juntos em fevereiro deste ano, em Dois Córregos (SP) — Foto: Facebook/Reprodução
Fonte: g1